segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Por que escrever pode mudar seu olhar sobre a vida


"Por quê?" Essa provavelmente é a pergunta feita com maior frequência ao redor do mundo. Os indivíduos vivem em busca de respostas para seus dilemas pessoais. Imagine, por exemplo, Sara. Sara dedicou anos de sua vida a um relacionamento. Abriu mão de coisas que normalmente faria questão em prol do seu parceiro. Sara foi deixada, partiram seu coração. Qual é a primeira reação de Sara? Perguntar por que.

Nós buscamos constantemente entender as diversas situações que nos cercam. Foi a essa conclusão que chegaram os psicólogos Pennebaker e Seagal da Universidade do Texas, Estados Unidos. Segundo eles, depois de entenderem como e por que um determinado evento aconteceu, as pessoas passam a estar mais preparadas para lidar com o mesmo evento, caso ele ocorra novamente. A isso podemos chamar de "construir uma história" e é nesse ponto que entra a escrita como forma de terapia.

Nas palavras de Pennebaker e Seagal, o processo de construir histórias, integrando sentimentos e pensamentos, é uma característica natural dos seres humanos. "(Esse processo) dá aos indivíduos uma sensação de previsibilidade e controle de suas próprias vidas. A partir do momento em que uma experiência tem uma estrutura e um significado, seus efeitos emocionais passam a ser mais maleáveis."


Trabalho de campo

Um estudo encabeçado por Pennebaker há mais de duas décadas sugeriu que um determinado grupo de estudantes que faziam acompanhamento psicológico escrevesse sobre seus pensamentos e sentimentos mais profundos em relação a uma experiência traumática. Eles deveriam escrever por 15 minutos todos os dias, durante quatro dias consecutivos. Os resultados foram de grande relevância. O pesquisador, que acompanhava os estudantes antes de iniciar o experimento, notou que, após escreverem sobre o que sentiam e pensavam, os estudantes reduziram drasticamente as visitas aos médicos. Em essência, confrontar experiências traumáticas resultou em um benefício visível à saúde.


Colocando em prática

Um instrumento antigo, abandonado pela maioria das pessoas, mas que vem se mostrando de grande importância é o saudoso diário. Muito utilizado em épocas onde opiniões não podiam ser ditas aos quatro ventos, o diário foi perdendo sua força com o passar dos anos, sendo substituído sem dó nem piedade, pelas mídias sociais. Todavia, conforme demonstrou Pennebaker em seus estudos, o ato de escrever, apesar de parecer antiquado, ainda é uma forma terapêutica de lidar com os próprios problemas.

De forma mais disseminada nos Estados Unidos, o chamado "journaling" (diariar, em tradução livre) é uma forma bastante eficaz de por em prática a técnica da "construção de histórias". Não há uma maneira certa de começar, à mão ou digitado, o importante é escrever. Manter um diário, segundo Pennebaker e Seagel "pode facilitar o processo de formação de uma narrativa sobre suas experiências, bem como reforça o progresso e ajuda a modificar comportamentos indesejados". Há diversos aplicativos para esse fim como o Penzu e o Evernote. O que realmente importa, na realidade, é fazer um uso consciente da escrita como forma de espantar nossos fantasmas pessoais.